A construção do porto de Chancay, no Peru, emerge como uma oportunidade estratégica para o Brasil, estendendo seus tentáculos comerciais até o Pacífico e facilitando o acesso aos mercados asiáticos. Especialistas, empresários e envolvidos na empreitada concordam que esse megaprojeto tem o poder de revolucionar as dinâmicas comerciais globais, especialmente para os estados brasileiros mais distantes do Oceano Atlântico.
Com a promessa de encurtar o tempo médio de entrega em até um
terço, a nova rota representa uma redução significativa nos custos logísticos,
gerando maior competitividade para os produtos brasileiros. A diretora de
Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil,
Sueme Mori, destaca que essa mudança poderia transformar as viagens, que
atualmente levam 45 dias até a China, proporcionando uma entrega mais rápida e
eficiente.
A expectativa é que os estados brasileiros mais interessados
nessa oportunidade sejam o Acre, Rondônia e Mato Grosso. Reuniões estratégicas
envolveram mais de cem empresários e governadores desses estados, visando
explorar Chancay como uma rota chave para a Ásia. Mario De Las Casas Vizquerra,
gerente de assuntos públicos da COSCO Shipping, ressalta o interesse desses estados,
destacando a atratividade de Chancay para empresários que buscam vantagens
derivadas da redução de custos logísticos.
As projeções otimistas indicam que as exportações brasileiras
pelo porto de Chancay podem atingir até US$ 30 bilhões ao longo dos anos. Em
2022, o Brasil exportou US$ 335 bilhões em produtos, com a China liderando o
ranking de compradores. O novo porto pode impulsionar setores tradicionais,
como soja em grãos, carne bovina, celulose e milho, além de criar oportunidades
para produtos com tempo de vida útil reduzido, como frutas.
Além dos benefícios para o setor agropecuário, o porto de
Chancay representa uma potencial porta de saída para produtos de maior valor
agregado, incluindo aqueles fabricados na Zona Franca de Manaus. A ascensão da
indústria tecnológica na Coreia do Sul também oferece oportunidades para
diversificar os destinos das exportações brasileiras.
No entanto, os especialistas concordam que o Brasil precisa
realizar investimentos substanciais em infraestrutura para aproveitar
totalmente essa oportunidade. A construção de uma ferrovia que conecte os
portos peruanos às regiões produtivas do Brasil é considerada vital para o
sucesso desse empreendimento. O professor Jorge Luis Castillo Hurtado destaca
que, embora existam desafios técnicos e ambientais, há uma necessidade premente
de melhorar as condições atuais para tornar o transporte mais funcional.
A desconfiança gerada por casos de corrupção envolvendo
grandes obras no Peru, incluindo a empreiteira brasileira Novonor (antiga
Odebrecht), apresenta um desafio adicional. Para obter aprovação para esses
projetos, o Brasil precisa fornecer garantias robustas, superando as
preocupações da população peruana com episódios passados de corrupção.
Em resumo, enquanto o porto de Chancay se posiciona como uma
promissora saída para o Pacífico, o Brasil precisa navegar por desafios
infraestruturais e questões históricas para garantir que essa oportunidade
estratégica não seja apenas uma miragem, mas uma realidade duradoura.