Querido Editor,
Escrevo-lhes com o coração repleto de histórias que fluem
como o riacho que serpenteia pela minha pequena chácara em Uberaba. Sou Dona
Maria, uma senhora de semblante sereno e cabelos brancos como a espuma do mar,
e desejo compartilhar com vocês um pouco da minha jornada.
Há mais de 50 anos, desembarquei nesta terra, vinda da região
nordeste do Brasil. Trouxe comigo não apenas minhas raízes culturais, mas uma
resiliência que se tornou a força motriz de minha vida. Semi analfabeta, minha
sabedoria transcende qualquer diploma, e minha história é uma tapeçaria de
superações.
Viúva há muitos anos, tornei-me o pilar de uma família
numerosa, sendo avó de 30 netos e bisavó de 5 crianças encantadoras.
Atualmente, divido minha chácara com os dois filhos que ainda estão ao meu
lado. A terra que cultivo com amor tornou-se meu refúgio, onde cuido da horta,
crio galinhas e porcos, atividades que me conectam às tradições de minha terra
natal.
O riachinho que serpenteia por minha propriedade é mais do
que um curso d'água; é a fonte de vida que alimenta minhas plantas e renova
minhas energias. Mesmo em minha idade avançada, não abro mão do prazer simples
de me banhar nas águas límpidas do riacho, onde cada gota conta uma história de
resistência e vitalidade.
A eletricidade ainda não chegou ao meu reino familiar, mas
isso não me impede de viver plenamente. As noites em minha casa são iluminadas
por lampiões e velas, criando uma atmosfera aconchegante e nostálgica. O
silêncio da noite é interrompido apenas pelos sons suaves da natureza e pelos
risos distantes de meus numerosos descendentes.
Minha história é marcada por perdas, pois ao longo dos anos,
oito de meus filhos partiram antes de mim. No entanto, minha resiliência é um
testemunho de que a vida continua, e encontro forças para celebrar cada dia com
gratidão, rodeada pela memória daqueles que partiram e pelos sorrisos daqueles
que ainda estão ao meu lado.
Tenho o hábito de dormir cedo, um ritual que transcende a
ausência de eletricidade. Sob o manto estrelado do céu, me recolho, agradecendo
pela dádiva da vida e pelas experiências que moldaram quem sou. Minha jornada é
uma ode à simplicidade, à resiliência e à beleza encontrada nas pequenas coisas
da vida.
Com carinho,
Dona Maria
Obs.: Carta escrita pelo Jose Antoin, a pedido de dona Maria,
sua mãe, uma senhora de 70 anos e lúcida.
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